Aniversáriante

Vestido brilhante,

Sapatos reluzentes.

Olhos céticos.

Alma nua.

Pele crua.

Debutante do asfalto.

Princesa da rua Augusta.

Viviane, Paola, Stefani,

Chame como preferir chamar.

Já foi chama de tantos nomes

Que nem faz mais diferença.

Já foi uma qualquer.

Já foi vadia

E até culpada, no dia em que o tio Zé lhe passou a mão.

Na manhã em que o ótimo Antônio segurou seus melões.

Na noite em que o padrasto entrou no quarto e rasgou o pijama.

O nome agora é fugitiva.

Sem teto.

Sem medo.

Sem mãe.

Sem pudor.

Dando o que lhe roubaram de cama em cama.

De cara em cara.

Ganha pão maldito.

Luzes vermelhas que a cegam...

Viva! Gritaram todos.

Afinal era seu aniversário de 15 anos.

Pra ela não faz diferença,

Vai comemorar mais tarde com a agulha.

Tentando esquecer o passado.

Tentando fugir do futuro.

Mais dia menos dia,

Na praça mais a diante,

Acharão o corpo esguio de uma jovem viciada.

Assassinada, mutilada.

Só mais um número mal contado.

Só mais uma puta mal vingada.

Jhullie Silva
Enviado por Jhullie Silva em 23/09/2018
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