VELEIDADES

Zé sofria aprisionado
Nas suas insignificantes
Verdades e delinquências
Nenhum grande ato
De fato o glorificava

A vida tinha sido escrita
Com “pequenas bondades”
“Pequenas dedicações”
E “pequenas maldades”

Esse era o enredo
Da vida geral
Consumida nas suas miudezas

O relógio de ponto
pontualmente visitado
O pequeno atraso
O desconto no salário
A lista de compras
O mercado
A 'regra' que não veio
O beijo na esquina
A pílula do dia seguinte
A chacina
E a nação esfaqueava-se na TV

Zé ia tecendo a sua vida
Nos frágeis fragmentos
Da sua existência
Pequenas corrupções
e Pequenas virtudes
o desenhava