Chamem de misantropia
Perco-me amiúde
Em uma ambição apocalíptica
De vivenciar o caos e seu amedrontador silêncio.
Uma luta natural pela sobrevivência
Tomaria o lugar de nossas inutilidades cotidianas.
Penso: valeria a pena.
Se grande parte de nós, humanos,
Ao caos sucumbíssemos, tanto melhor seria:
A natureza respiraria,
Aliviada de nossa excessiva presença.
Nossos amores, frustrações, projetos...
Tudo seria posto de lado,
Perderia a razão de ser.
Não fosse minha mãe pôr-me de castigo,
Por-me-ia a estudar formas de disseminar o caos.
Resta-me, contudo, apenas copiar
O espírito de Sócrates:
Que dobrem a cicuta!