Notas de desalento

Sabe eu ainda não experimentei a maior dor.

Há pessoas morrendo nas guerras, estou vivo.

Há pessoas que nem podem ler, tenho um livro.

Há pessoas sem o que comer, estou cheio.

Há crianças trabalhando, faltam 15 para o recreio.

Há pessoas sem roupas no frio.

Há pessoas que implorariam por um imundo rio.

Há pessoas que sofrem abusos constantes.

Há pessoas sendo torturadas neste instante.

Há uma imensidão de dores piores que as minhas.

Eu resmungando em milhares de linhas.

Por não se importarem como já me importei.

E agora esgotado dizem que eu mudei.

Foda-se, você e o que pensa!

Não sabe como a coisa está tensa.

Não tens ideia do que é automatizar-se.

Querer falar... Mas calar-se.

Não sabes o que sinto.

Tão pouco eu de ti.

Constantemente eu minto.

E fico a sorrir.

Deveria ter dedicado mais a mim.

Embora chamassem-me de altivo.

Certamente não estaria assim.

Em um campo sem cultivo.

E disso tudo sobrevivo.

Achando-me culpado por estar triste.

Tento ignorar, sair, cantar, gritar, pular, falar e até chorar...

Contudo a melancolia persiste.

Notas de desalento