CENTO E TRINTA ANOS DEPOIS...

Reclamam das minhas cotas,

Reclamam do meu cabelo,

Eu não estou pedindo esmola,

Apenas imploro por respeito.

Olhe bem para esta pele

Que carrega tantas cores,

Que já chorou muito sangue,

Que já sofreu tantas dores.

Não fui eu quem matou

Tantas crianças inocentes.

Não foi meu cabelo que escravizou

Pessoas por serem diferentes.

Não foram minhas mãos que seguraram

O chicote em praça pública,

Que fez as pedras se banharem

Com um sangue desprovido de culpas.

Não foi minha boca que condenou,

Através da religião, a cor preta.

Que tanto inferiorizou,

Que hoje deixou tantos problemas.

Cento e trinta anos de abolição

E será que ainda não aprenderam a lição?

De que igualdade vai muito além da cor,

Que antes disso existe uma alma com valor?

Será que isso já virou cultura

Para um povo sem "raça" pura?

Tratam-me como se tivesse pedindo esmola

Quando entro na faculdade através das cotas,

Mas ninguém lembra que já paguei

Com 40 chibatadas nas costas.

Os meus erros me levaram até a praça

Para levar 40 chibatadas de graça.

E nesse meu futuro o que mudou?

A vida de mais um preto, o racismo tirou!

Brasil, somos um país vira-lata,

Mas se a pele for escura, simplesmente mata,

Ou rasga esse tecido que vestiu a nossa história,

Pondo o preto e branco em cada lado da divisória.

Mulheres brancas numa revolução:

Direito ao voto, era o plano!

E a negra aqui no Brasil,

Só querendo ser chamada de ser humano!

Racismo é a doença que o Brasil carrega,

E a cada dia mais à ela ele se entrega,

Mas nós estamos aqui propondo uma cura:

Deixe seu preconceito, peso histórico sem sentido,

E entre nessa luta por um país mais unido.