Eu não sou poeta

Sou de uma complexidade gigantesca, sou feito de indecisões constantes.

Quero tudo e quero todos, quero aqui e quero agora.

Não, não agora, talvez mais tarde, talvez amanhã. Quem sabe outro dia.

Quero o amor eterno e também quero o sexo passageiro.

Quero tanto o dia ensolarado quanto quero a noite fria e chuvosa.

Quero a calmaria, a paz e o silêncio ao mesmo tempo em que quero as risadas e conversas de uma multidão animada de pessoas,

o barulho de uma festa e os gritos de pessoas querendo se comunicar.

Quero sentir o vento bater no rosto e quero sentir as cobertas por sob minha cabeça. Quero chorar e rir, dançar e cair, viver, correr, morrer e fugir.

Pegar o primeiro voo para lugar nenhum e o primeiro ônibus de volta para casa.

Há em mim um cansaço de nada e um desejo de tudo.

Uma vontade de conquistar o mundo, de dominar todas as artes e de dormir eternamente em camas macias no palácio que será de mim por direito.

Há uma ambição tremenda em minha alma e dessa eu não abro mão.

Conquistarei o mundo ou então não viverei, mas temo que isso nunca chegue a se concretizar.

Nunca fui nada e sempre quis ser tudo, possuir tudo, ter o poder sobre todos.

Sou um tolo egoísta ou apenas um hedonista? Não sei, nunca saberei.

Sou um enigma a ser decifrado, uma esfinge no caminho que devora todos os meus sonhos.

Minha mente funciona sem parar, processa informações em níveis mais complexos do que todos os computadores já criados e eu penso todas as coisas ao mesmo tempo, por isso tenho tanta ânsia de liberdade, tanto desejo de possuir, de ter, de ser e de aprender.

Deus, hei de morrer sem nem ao menos lhe entender?

Li todos os livros, desvendei todos os mistérios e encontrei o caminho a seguir, mas para te encontrar, para te entender é preciso de muito mais do que mil vidas

E apenas esta já me basta, me cansa, me dói.

De tempos em tempos o desejo de fugir de mim mesmo surge

E tudo o que quero é ser eu mesmo, sem as amarras que as normas sociais impõem,

Sem as algemas que os ciúmes apertam firmemente em meus pulsos.

Eu não sou poeta, não sou nada.

Sou um rei sem coroa, sem riquezas, apenas com abundante arrogância de si mesmo

E uma fortuna infinita de indecisões e questionamentos.