EDMUNDO E AS BELAS LETRAS
FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Em lendo o velho livro denominado: “Homens do Brasil”, volume II – Parahyba – Parahybanos Illustres, de autoria de Liberato Bittencourt, publicado pela Livraria e Papelaria Gomes Pereira, Editor, Rio de Janeiro em 1914, constatamos nas páginas 76 e 77, a mini biografia de:
Edmundo do Rego Barros Filho, empregado público e poeta. Nasceu na Villa de Cruz do Espírito Santo, em 12 de Dezembro de 1871, matriculando-se depois na Faculdade de Direito do Recife. Mas não chegou a concluir o curso, talvez por cedo haver entrado para o Ministério da Fazenda, como 4º escripturário da alfândega de Pernambuco. Passou depois de servir em Manáos, onde exerceu com brilho varias commissões em uma dellas, no alto Amazonas, adoecendo gravemente. Hoje é conferente da alfândega do Pará e tem a saúde ainda seriamente abalada por aquella grave enfermidade. Regular na estatura e superior na inteligência, dedicou-se com amor às bellas letras, chegando a ser um lyrico de grande valia. [...].
E Bittencourt (1914, p.76/77) menciona textualmente: “O seguinte e sentido soneto, de sua lavra, foi publicado em 1898”, conforme passamos a transcrevê-lo com a ortografia da época:
“ANTES DE PARTIR
Eu sigo; segues rumo diferente...
Tu, muito alegre, o coração sorrindo;
Eu, triste... triste o coração sentindo,
Louco de magoa, misero e descrente.
Tu, venturosa, vaes tranquillamente,
A alma povoada do sonhar mais lindo;
Eu, entre sonhos de desgosto infindo,
Levo minh’alma afflicta e descontente.
Partes, ditosa, entre sorrir fagueiro,
Meiga cantando uma canção garrida,
Sem mais pensar no pobre forasteiro.
Eu também sigo: e, na hora da partida,
Não sei como dizer-te o derradeiro
Adeus fatal da triste despedida!”
O poeta Edmundo do Rego Barros Filho, descendente da “clã” da poderosa família “Rego Barros” na Villa do Espírito Santo, nasceu portanto, treze anos antes do nascimento (1884) de Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos, na mesma área geográfica e naturalidade, assim como nasceu na referida vila na época em que era escrita com dois “L”, que por analogia pode ser a abreviatura do termo “letra”, o também poeta Alcides Baltar, em 1877. Portanto, Espírito Santo, Maguary e Cruz do Espírito Santo, tem tudo a haver com a inspiração criadora da poesia e do lirismo peculiar de seus grandes e inesquecíveis filhos, aqui lembrados, dentre outros não menos importantes e não citados neste momento. Três poetas e três destinos diferentes, apenas a poesia os une como se sangue fosse. A Rua como a Vila e hoje cidade de Cruz do Espírito Santo ainda é assim chamada tradicionalmente, é um berço nato de poetas e escritores já no século XIX.
A poesia é interessante e tem sua linguagem poética própria, mexedora do sentimento e da sensibilidade do poeta e do leitor, haja vista seu envolvimento com se fosse um conto de fadas, de reinos... que navega pelos caminhos, pelos rios, pelos mares, pelas estradas asfaltadas e/ou esburacadas cheias de poeira, tudo não passa do colorido e da imaginação do “eu” lírico e poético a procura de um fim cheio de felicidade idealizada nas entrelinhas de cada verso entabulado na inspiração do amor e ou do ódio de quem escreve poesia e de quem a ler. É essa a grande razão e prazer em escrever e de ler poesia, em qualquer tempo e lugar da história da humanidade, inclusive nas terras de massapê banhadas pelo Paraíba e seus afluentes.