Contas.

E então

Você pega um lápis

e aponta

Faz de conta que é poeta

Numa folha de papel

Faz cair as letrinhas do Céu

E depois pega as letras

e as conta

E conta como foi a vida

E sobre as coisas que o tempo faz

Logo após, o aponta novamente

E desenha um poeta

Faz a conta

das vezes que errou

e divide

Pelos erros que acerta

E os soma às manobras do tempo

O que sobra

Empunhar a um lápis sem ponta

Examina o corte da lâmina

As marcas que a vida fez

Galvanizadas

Pelos golpes que o tempo deixa

e de novo o aponta

Esvaindo seu tempo sem conta

Tentando outra vez

Apontar uma estrela

Entre o Céu e a Terra

Faz as contas de novo

e novamente erra

Fazendo de conta que sabe exatamente

Qual era o mês que o calendário indicava

Admite que o poeta mente

Se escreve bonito

Mas escreve pra acalmar a vida

Pois a vida é brava

Cruel servidora do tempo,

Pois o tempo é o que conta

Escreve, pois acredita

Que um dia hão de cessar

Todas as contas

Inclusive a contagem do tempo

Quando as letras, enfim

Se combinarem

E o poema escrito

Mais bonito que a própria vida

O lápis, já sem ponta

Aponta o dia que passou

A oportunidade que foi perdida

E as coisas que o tempo leva

Sendo bem ou mal aproveitadas

Pode ser até que ninguém

Não tenha entendido nada

Daquilo que esteja escrito

Feio ou bonito

Não há meio de apagar

O feito, o dito, o efeito causado

A lâmina gasta

Uma vaga lembrança

Que contrasta

Uma vasta esperança perdida

As arestas ... mais nada

O lápis se acabou

Passou-se a vida

A luz se apaga

Tudo mais o tempo faz

do jeito que sempre o fez.

Edson Ricardo Paiva.