Digo o que sinto
As vezes de forma envesada
As vezes do modo avesso
Pois os sentimentos são áspiros
São magnéticos
Atraem e repelem.
Digo o que penso.
E, o pensamento cai feito raio
cai e electrocuta em seguida.
E se espalha.
Extermina a matéria.
Queima o conteúdo.
O pensamento destrói
de dentro para fora.
Reverbera pelos fios.
Pelas nuvens.
E, no choque com as montanhas
faz o clarão lembrar de nosso
iniquidade.
Dói perceber que os sentimentos
não são compreendidos.
Dói notar que os pensamentos
não são aceitos
É uma rejeição a tudo.
As palavras, aos sentimentos
e à realidade.
E, como se pudéssemos optar em
viver em outro planeta.
Alimentamos a ilusão
de que a negação é a solução
de todos os problemas.
Então, negamos diante de todos.
As nossas misérias,
as nossas deficiências,
as nossas dimensões ínfimas e, o pior,
todos os nossos defeitos.
Negamos existir o amor e o ódio.
A felicidade e a depressão.
No alvéolo onde buscamos ar...
mas queremos o mel.
Negamos sentir saudades
até de coisas ruins.
Das costelas quebradas.
Da desídia em querer enfrentar
as manhãs sem orvalho,
e, as tardes, sem futuros luares.
E a tristeza sem a lágrima.
Diante do entardecer
O sol morrendo impunemente.
A noite desbotando fantasias,
tingia as cortinas
pela sinceridade
que a escuridão que traz
em ressaltar as coisas
que possuem apenas
luz própria.