O Muro das Verdades
As verdades estavam estabelecidas na minha frente,
cada uma delas, uma sobre a outra como tijolos.
Verdades vermelhas e cheias de vigor.
O muro se fez alto e intransponível
como de fato são as verdades estabelecidas,
todas elas. Essas ditadoras.
Fiquei ali parado admirando tanta veracidade
a habitar os tijolos sagrados, histórias de barro
Minhas mãos no bolso de pano ralo,
dali tirei um giz que aos olhares de alguns
tinham formato de picareta ou bomba atômica.
Meu Deus (o telespectador)!
Um giz, e meu braço franzino o levou ao muro que,
suspeito eu, suspirou fundo.
O giz tocou a face do tijolo e do beijo das duas rochas
o branco se chocou com o vermelho
em perguntas cruas, imperguntáveis.
Aquilo podia? Cabia num dia,
tantos pontos de interrogação?
Ouviu-se um rachar e todos se afastaram correndo
O ruir de um muro faz muita sujeira,
neste caso ninguém fica pra limpar,
todos se vão para estabelecer novas verdades.