Poetar

Ser poeta é, por sua vez,

questionar os inúmeros ‘porquês’;

é roubar do tempo a rapidez

e querer o que a vida desfez.

É expressar os gritos da mudez

e fazer ouvir ruídos na surdez;

é ver no translúcido a nitidez

e saborear o doce da acridez.

É tatear o morno da tepidez

e transformar a frieza em calidez;

é despir de pudor toda nudez

e despertar a libido da frigidez.

É desembaraçar-se diante da timidez

e agigantar-se em pequenez;

é fartar-se em plena escassez

e permitir inquietação à placidez.

É tratar com suavidade a rispidez

e converter indelicadeza em polidez;

é fazer da aspereza, maciez

e revelar humildade à altivez.

É propor prudência à insensatez

e buscar a cura para a morbidez;

é estar sóbrio de embriaguez

e mostrar-se demente de lucidez.

É dotar a estagnação de fluidez,

e extrair as cores da palidez;

é dar às vontades humanas solidez

e aos corações empedernidos, flacidez.

E nas linhas, que no papel se fez,

rascunhar, com leveza e avidez,

os desalinhos da alma, de vez,

com todas as certezas de um ‘talvez’!

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PREMIAÇÃO: Classificada como 10ª colocada no “5º Concurso Nacional de Poesia”, da cidade de Descalvado-SP, e publicado na coletânea “Marcas do Tempo VIII”, no ano de 2006.

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