No guiso da cobra

Este é o labor oficio do ente poeta,

doente a vivar coisas já amansadas no desterro,

trazer pra fora os desencontros,

definir em língua estranha coisa já dirimida,

fuçar nas desconsideradas, mas ainda ativas.

Quem veio primeiro o poeta ou o verbo?

Não se sabe ao certo, a guisa da hipótese

os dois vieram juntos no guiso da mesma cobra venenosa,

picadeira, abraçadeira, sufocante.

Tema poeta inventa, tudo vira imaginação,

traz pra luz coisas pequenas, as grandes pra escuridão.

A poesia é lenta, como rugas das tartarugas,

também ganha velocidade descomedida no

impulso da pena, no mergulho da ave rapina.

Quanto antagonismo no teu poemar resiste,

ao mesmo tempo em que enxergas

atrás das paredes e nos mundos ocultos,

tens miopias, dislexias, negas ver abismo

diante dos pés que a tu cativa e engole.

Poeta tropeça nas palavras vida inteira,

tomba em suas rasteiras, levanta garimpa

novamente outras para fundição.

Volta a escrever, falar, recitar,

pelos cantos nas paredes de aço e rupestres.

Poesia não é gênero literário,

é dom do espírito, machado da alma,

madre de todas as artes,

pulsante em todas as ciências.

Ausente um poeta em mim,

como posso cantar, pintar, escrever, arquitetar,

engenhar obras magníficas, interestelares?

Quem cria com poesia constrói a eternidade,

visionário é de coisas duradoras,

entende o que importa pra tudo continuar.

Marcos Rossi
Enviado por Marcos Rossi em 31/05/2018
Código do texto: T6351712
Classificação de conteúdo: seguro