Calha

Sou uma calha de zinco

De um telhado de cimento

Não faz caso o que sinto

Existo no esquecimento.

E aqui fico pendurada

A tamborilar a cascata

E escorrer o aguaceiro

Sou um pedaço de lata

Quando o estio é demais

E meu leito enche de areia

Sou a morada de pardais

Na borda da cumeeira

Sou canal ou sou bacia

Um mero penduricalho

Só não perco a alegria

De fazer o meu trabalho.

Mas há uma hora do dia

Que um raio do Sol me bate

E seu brilho me ilumina

De um vermelho escarlate

Refletindo o Sol distante

Todo o arraial ilumino

E nesse breve instante

Sou um com o Divino.

Sou criação abençoada.

Sirvo à chuva, sirvo ao Sol

E para a sua jornada

Posso bem servir de farol!

Kleber Versares
Enviado por Kleber Versares em 23/05/2018
Reeditado em 23/05/2018
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