Calha
Sou uma calha de zinco
De um telhado de cimento
Não faz caso o que sinto
Existo no esquecimento.
E aqui fico pendurada
A tamborilar a cascata
E escorrer o aguaceiro
Sou um pedaço de lata
Quando o estio é demais
E meu leito enche de areia
Sou a morada de pardais
Na borda da cumeeira
Sou canal ou sou bacia
Um mero penduricalho
Só não perco a alegria
De fazer o meu trabalho.
Mas há uma hora do dia
Que um raio do Sol me bate
E seu brilho me ilumina
De um vermelho escarlate
Refletindo o Sol distante
Todo o arraial ilumino
E nesse breve instante
Sou um com o Divino.
Sou criação abençoada.
Sirvo à chuva, sirvo ao Sol
E para a sua jornada
Posso bem servir de farol!