Cavacos
 
Suas mãos estavam cheias.
Pequenos pedaços que compunham um todo.
Partes de um ser que se desfez
Talvez pelos “ais” da vida, talvez pelos erros do viver.
 
Era um punhado de cavacos sujos
Marcados pela faca que lhes picou.
Era um amontado de dúvidas e escrúpulos
Fadados a se perder por falta de amor.
 
Era assim que ele se sentia
Até ser juntado pelas mãos divinas.
Partes que não se encaixavam
Pedaços de uma vida.
 
Impossível refazer a peça única.
Tarefa infindável de recolocar tudo no lugar.
Mas ele não buscava a integridade
Pois se descobriu inteiro nas partes.
 
O que o uniu?
A dúvida de ser peça única.
O que o dividiu?
A certeza de nunca ser despedaçado.
 
Pobre alma que se julga plena.
Quando se tornar cavacos
Pela lida na vida feroz,
Sentirá a solidão doer,
Por não ser capaz de se refazer
Dos pedaços sujos que lhe compõe.
Photo by @trond.kvamme.1
 
Fábio G Costa
Enviado por Fábio G Costa em 14/05/2018
Reeditado em 14/05/2018
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