BALADINHA DA ABOLIÇÃO

O chicote que açoda a senzala

A bala que abala a favela

O racismo que fecha a porta da escola

Abre os ferrolhos da cela

Qual é a minha opção

Quando a lei liberta o corpo

Mas mantém a alma em prisão?

Presa às âncoras da ignorância

Definhada pela ganância

Carente de empatia

Quando laços humanos nos unem

Mas nos segrega a etnia?

Socorro!

Se corro

Para onde corro?!

Volto para a senzala?!

Pro Morro?!

Ou morro?!

Para qual quilombo eu fujo?!

Para o gueto ou vielas?!

Milhares batem carteiras

Enquanto alguns batem panelas

Vem de longe muito longe

O medo que paralisa

O grito que sufoca o peito

A ginga, marca que fica

A cor que me identifica

Também me tornam suspeito

Vem de longe muito longe

Brados de libertação

Pra qual quilombo rumamos?

Cadê Zumbi, nosso guia?

Pra qual floresta fugimos?

Buscamos qual alforria?

Bate os tambores, meu povo

Quero ouvir sons de mudança

Ecos de um Brasil novo

Nas asas da esperança