Funcionalidade do Ser
 
A pele trazia as marcas do existir.
Rugas e trincas que revelavam as quedas.
Mordaça imposta pela incapacidade de dizer.
 
Quanta corda tinha o homem suportado?
Quanta engrenagem interior destruída?
 
Não era fácil existir.
Funcionalidade exercida no devir.
Alma fadada à morte.
 
Saber-se assim, mortal e frágil não doía.
Era apenas preciso revisitar os mecanismos.
Lubrificar as partes que rangiam.
 
Máquina que se esvai.
Pele que se deteriora.
Tempo que machuca.
 
Esse corpo a cada um doado,
Manipulado pelas regras de outros desejos,
Segue dando sinais de vida
Não se rendendo à perda da liberdade.
 
É apenas alma dilatada e abatida
Aguardando o eco que sai do interior.
Escuta-se o desejo que grita.
Toma-se o chapéu.
A beleza ainda rege o dom da vida.