A ESTRADA
A ESTRADA
BETO MACHADO
Eu não suportaria ver
A minha trajetória mutilada.
Sem os pés num tosco jogo.
Sem as mãos à poesia atracada.
E tanto o campo quanto o cais
Pavimentaram a longa estrada,
Por onde trilha um poeta,
Tornando a via encantada,
E um jogador contumaz.
A estrada mergulha
Numa casa toda aberta,
Cercada de romãzeiras viçosas
E, por demais, generosas,
Ao espalhar bons fluidos,
Bem mais buscados
Que seus doces frutos.
E, sem ter um fim ensimesmado,
O mergulho transfixa os limites meus
E os da casa aberta,
Porquanto o corpo,
Razão de ser da vida no presente,
Não vai deixar pairar, impunemente,
Uma ameaça de qualquer torpor.