Quando escrevo
Quando escrevo não sou só.
Me multiplico, me somo e as vezes me divido,
mas quando escrevo deixo de ser só
pra ser várias, várias de mim mesma...
E essas várias moram em mim
existem em mim, nas profundezas do eu.
Olhando assim, já posso dizer que não sou só
tenho as várias, e as várias me têm.
Quando escrevo me entrego, me revelo,
me dou, me relaxo...
Quando escrevo sou só eu...
Deixo a métrica, afasto-me das regras
ou escolho segui-las.
Me dispo da gramática, da lógica, das normas.
Fico nua, fico crua, fico seca, fico áspera.
Fico também entregue, vulnerável,
aberta e ao mesmo tempo fechada.
Me deixo ficar exposta, estendida,
largada com ou sem rima
no meio desta lacuna que chamamos de vida.
Quando escrevo me desprendo, me esvazio,
mas também me encho.
Deixo que as palavras saiam,
mas também deixo que preencham.
E assim elas falam e também calam.
Voam e vão pousando em um papel qualquer...
Deixando por aí os pedaços
do que sou de mim quando deixo escrito meu coração
em um punhado de almaços.