DESCRENÇA
Em uma antiga casa
reside um idoso poeta,
a contar a todo instante,
a sua inditosa lida.
Quando lhe faltarem:
a voz,
a visão,
a locomoção natural,
então, dir-se-á:
não mais ser poeta,
não mais ser gente.
Distante dos rumores ficará,
em etéreas sombras,
em eterno nirvana.
Já não sofrerá
os reflexos convencionais,
nem sentirá aqui e alhures
a desordem que impera.
Por fim, se um dia for lembrado,
vale dizer:
honraria tardia,
o significado perde.
Zilmar Pires