DESCRENÇA

Em uma antiga casa

reside um idoso poeta,

a contar a todo instante,

a sua inditosa lida.

Quando lhe faltarem:

a voz,

a visão,

a locomoção natural,

então, dir-se-á:

não mais ser poeta,

não mais ser gente.

Distante dos rumores ficará,

em etéreas sombras,

em eterno nirvana.

Já não sofrerá

os reflexos convencionais,

nem sentirá aqui e alhures

a desordem que impera.

Por fim, se um dia for lembrado,

vale dizer:

honraria tardia,

o significado perde.

Zilmar Pires

Zilmar Pires
Enviado por Zilmar Pires em 14/04/2018
Reeditado em 04/07/2018
Código do texto: T6308650
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