O Homo Ridiculus

O homem ridículo não se via ridículo

Logo era um homem ridículo.

Mas tão logo, se viu ridículo.

E tornou-se um homem.

Percebeu que falava demais

pra se esconder.

Que amava as grandes causas,

mas não o próximo.

Que se considerava “do bem”

pra não se conhecer.

E que o mundo lhe devia a felicidade,

mas ele ao mundo, nada devia.

Notou que nunca fraquejava

porque se abstinha.

Que não era egoísta, competitivo

e estava sempre equilibrado.

Porque, pelo que tinha,

pouco havia lutado.

Imaginava-se evoluído e bem-resolvido,

e esperava por um amor maravilhoso,

porque não suportava conviver

com gente de carne e osso.

Enfim porém, assumiu sua irrelevância

E ganhou leveza, presença.

E ao desistir de ser tão puro e bom,

tornou-se muito melhor.

Rafael Lédo
Enviado por Rafael Lédo em 14/04/2018
Reeditado em 14/04/2018
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