Silêncios
Palavras são erros. Excessos.
Palavras nos tornam iguais.
E os silêncios nos escancaram.
Desde o nosso primeiro.
Aquele silêncio sem jeito,
que disse tudo de mim.
Teve aquele também na cozinha.
Aquela mudez caprichosa,
mudez concentrada,
que volta e meia parava,
e de relance te olhava.
É tão bom quando estamos sozinhos.
E teve aquele silêncio de ontem,
que ouviu uma risada alta.
Aquela risada sem som
que abraçou a sua pele suada.
Uma gargalhada muda
da nossa cara feliz e deslavada,
que não mais precisava
ser tão maquiada,
e que nos disse portanto,
que a gente se bastava.
Mas tem o silêncio de hoje
que é silêncio sem graça.
Silêncio que me conta baixinho
as ilusões que criava.