ONDE TU TENS UM CORAÇÃO PARTIDO
Tu me perguntas porque a vida parece injusta e o sofrer sem fim
porque os lábios mentem
as aparências enganam
por vezes
tudo parecendo tão tolo e vão sob o sol inclemente
por vezes
tudo tão vão e insano sob a lua fria e insensível
diz-me que o vento não levou embora as frustrações e as feridas
as multidões não fizeram jus a seu grito de dor na noite
por fazerem-te em pedaços
pelas feras na floresta
após suportar todas as violações a que se pode chegar
por que pois
não me permitiste rumar contigo ao seu lado?
minha alma vagou sem rumo entre tantas estradas desertas
buscando vaga em casebres abandonados e albergues perdidos
de longe porém observando-te
como teus pés se esticavam na areia das praias do horizonte
tua túnica de inocência tremulava ao sabor dos ventos
tu eras estátua
contemplada de longe pelas astúcias dos sábios e políticos
venerada por mil místicos e hippies atrás de exotismos
eu rumava à distância
andarilho vagabundo a observar as nebulosas do céu
esqueceste?
causa e consequência têm um limite
uma cortina de fumaça
uma lente colorida de acordo com nossos sonhos
é preciso mergulhar no caos e na sombra
adentrar as chamas dos vulcões nos corações dos homens
as selvas fechadas de sutilezas nos desejos das mulheres
despir-se
como criança a brincar nas águas da chuva
do contrário não se pode entender o mistério da existência
não há uma charada mágica
por sorte a vida não é esfinge mas não se engane
ela devora e arranca nossos pedaços com garras e dentes
quero que saibas
onde tu tens um coração partido trago um rosto multilado
e a maior vingança
são as asas que abro na liberdade deste simples sorriso