RECANTOS SECRETOS
No interior das almas, há um mundo de segredos,
Um mundo inflamado por sonhos,
Memórias e sentimentos, ora aceitáveis,
Ora intensamente conflitantes...
Como num mar soturno e misterioso,
Em cada ser humano reina um mundo secreto:
Inacessível a uma concepção superficial e antecipada.
Como então saber quem é o nosso semelhante
Se apenas o julgamos de maneira precipitada,
Como se já o conhecêssemos ''perfeitamente''?
Em cada alma há abismos escondidos,
Mas apenas acessíveis
Aos verdadeiramente íntimos.
Subjaz em cada ser uma constelação de enigmas,
Cuja tonalidade das experiências mais secretas
São impróprias e perigosas para serem partilhadas
Nas entediantes rodas de convivência social.
Como então podemos dizer que,
De antemão e sem qualquer intimidade,
Conhecemos o que se passa no interior de outrem?
Por que agir como se já estivéssemos ciência
Sobre a vida de cada ser humano
Se não temos paciência para descer com ele
Nos recintos mais escuros
De sua precária e limitada condição?
Como podemos compreender
O nosso próximo (que é sempre tão distante!),
Se já formamos as nossas próprias ideias
Impermeáveis a qualquer teor de flexibilidade
E inférteis até para o cultivo da sabedoria?
Nos recantos de cada ser há portas, chaves,
Escadarias, aposentos para confortar esperanças,
Cadeados, retratos e um paraíso de anseios e memórias
Esperando para serem desvelados apenas
Para uma verdadeira e sincera entrega
Que sempre requer a cumplicidade de duas almas.
O coração é um tesouro
Onde estão guardadas as grandes
Verdades de cada ser humano,
As suas verdades mais inescrutáveis e recônditas.