Liberdade
Em meu quintal, plantei um jardim
Com árvores, flores e muitas frutas
Para atrair aves felizes e argutas
No intento de que alguma fique aqui
Embora da terra eu tanto cuidasse
Bem como das plantas, com carinho
Era pouca a estadia de passarinho
Que por temporadas cheias abrigasse
Alguns passavam, bem interessados
Pegavam tudo o que precisavam
Por pouco tempo me alegravam
Mas logo embora se iam, assoberbados
Não obstante, por noites sem luar
Morcegos invadiam, e saqueavam
Ratos pulavam, e mordiscavam
Sem eu muito fazer, para afugentar
Por mais que as estações se revezassem
Outono e inverno, primavera e verão
A tristeza eu afastava de minha ambição
Esperando que pássaros me visitassem
Até que uma ave de beleza inaudita
Se sentiu atraída pelo fragor das flores
Deleitou-se em frutos coloridos e doces
E encheu de ternura a minha vida
Por muito e muito tempo ela ficou
Ia e vinha, brincando pelo jardim
Correndo e voando, cantando pra mim
E o meu cotidiano tanto alegrou
Até que num dia carrancudo e nublado
Ela partiu, num ímpeto inexplicável
Segundo espírito de bicho indomável
Tornando o jardim, de novo, inutilizado
Transtornado, procurando reconquistar
Poda, replantio, semeadura e dedicação
Reforcei no jardim das delícias a tentação
Que seduzisse aquela ave, a retornar
E, depois de meses e meses de demora
Observando o ganho de influxo ao quintal
Mais aves, morcegos e ratos vieram a tal
Até que ela ressurgiu, bela e caprichosa
E noutras mais vezes foi assim a realidade
De idas e vindas, saudade e deleitação
E entendi: não importa minha aspiração
Pois de voltar o ato é dela, completa liberdade