(...)
Dentro
Do silêncio que
Entre nós
Se inaugurou
No ensejo oposto a toda fala
Urge
Um claro abismo
A fundar-se inclemente.
Detenho-me em posto inerme
Contra a larga desta fenda que velozmente cresce
Nos afastando.
Renegando a duração dos ciclos é que se sente
O momento: o segundo último se arrasta.
Por mais que o sentido
Se perca junto ao acréscimo
Do vazio angustiado
(o qual ninguém ousa romper)
Será uma terna palavra
Nossa solução?
Que é isto a ecoar sem ruído?
(Onda) a propalar-se vacilante
Neste vácuo sem distância?
Sinuosa e triste estância a
Corroer no largo instante
O frescor do gesto puído?
Quanto tempo agora nos resta?
O momento presente passa disperso
Até nos acenar distante - O tempo não passa de uma só vez
Mas todas as vezes.
Embora somente ao cantar do silêncio
Seja possível sentir seu corte ferir-nos
A tênue seda a envolver sulco e poupa
Gesto e gozo
Voz e tato
Penetrar longo a noite de nosso limbo covarde
Abrir
Fissuras no tempo (na vida)
Linhando os fins particulares
Como um rio que deflui
E deságua vão
Uma sinuosa cascata
Provida de tal ímpeto
Inundando a mais cabal e plena ausência.
(De ruídos)