O amor e o sol

Perguntaram certo dia ao formoso sol:
Tu te achas tão importante quanto o amor?
O que há de mais belo é o teu arrebol?
Mas, humilde e sereno, o sol não se exaltou.
 
 Assim, diante de tão irônica comparação
E erguido brilhantemente ao meio dia,
Verteu forte luz à estranha indagação,
Para destilar repostas com sabedoria:
 
- Homens insanos, impregnados de torpor,
Entendeis mais deste sentimento do que eu?
Acaso alguém retém a cura ante uma extrema dor?
Ou ousa ignorar a bela vista de onde se ergueu?
 
Pois para trazer-vos a vida todos os dias,
Vou me consumindo até um dia não mais brilhar.
Se desfrutais neste mundo de tantas regalias
Eu ainda cuido de enfeitar o céu e colorir o mar
 
Achastes isto pouco? Quereis algo além?
Não sou como o amor que vos inspira poesias?
Recorram ao que achais que só a ele convém
E chafurdem-vos em vossas reles fantasias.
 
Mas eis que chega o amor que, sem rodeios,
Acolhe em defesa a estrela incompreendida:
- Não percebeis o sol, vis mortais, como a um seio?
Que é com ele que se inicia o ciclo da vida?
 
Mas e eu? Eu também sou mal compreendido.
Vós sempre falais cada vez mais de mim,
Mas a hipocrisia jamais vos dá um sentido
Senão vossas relações não chegariam ao fim.
 
Enquanto ele lança teus raios pelo mundo,
Uso o meu nome lançando paz nos corações
São tantas vidas florescendo do mais profundo,
Enquanto as minhas morrem em destruições.
 
Não! Ele não é perfeito em seus sentimentos,
Mas mantém vidas e vidas vivem amores.
Faz nascer sempre o essencial alimento,
Sem que reconheçamos tão nobres favores
 
Cada um vale-se do seu mais puro saber.
O amor é um sol e o sol é um amor do seu jeito.
Portanto, não queirais a tudo compreender.
Acordai-vos, pois, para o que tendes de mais perfeito.
Luciano Abreu
Enviado por Luciano Abreu em 16/03/2018
Reeditado em 19/03/2018
Código do texto: T6281985
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