Do amor
 
Dizia ser amor.
A fonte doadora secou.
Era atenção em demasia
Dada a outros que não sentiam.
 
Ela jurava ser amor.
Fazia, repetia, doía.
Mas esperava o receptor
Retribuir seus toques de harmonia.
 
Ela sonhava com seu amor.
Em meio a noites de insônia, sorria.
Acreditava em tudo que dizia
Só não percebia a mentira que ardia.
 
Então secou o amor.
Pétala sem vida, se desfazia.
O choro do engano retorcia
A alma sedenta que gemia.
 
Mas ela ainda tinha amor.
O caule verde lhe dizia
Que na vida tudo se recria.
Não podia ser do outro o que lhe pertencia.
 
Lançou na terra o amor.
Plantou o galho quase seco que morria.
Regou com lágrimas a própria vida.
Floresceu, então, amor que antes não existia.
 
E foi amor por toda a vida.
Todo seu.
 
         F©
MCMLXXVIII
 
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