EXPLOSÃO
(Por Aglaure Martins)
Ainda que o céu nuble e os olhos cerrem as cortinas
a boca chora o riso e os olhos das lágrimas riem.
Quem disse que o verbo precisa ser conjugado?
Que a pedra tem que ser lapidada pra ser bela?
Que o girassol não gira na sua órbita?
Que poeta é aquele que rima?
Quem disse que a cor do sol é amarela?
Ainda que digam que somos o nosso reflexo
que somos as nossas escolhas
e colhe-se o que se planta,
eu digo que nada permanece
que reflexo é o que se é
que se dança ou não na ponta do pé
que alguns erguem a taça da sabedoria
e tantos outros brindam a ignorância.
De onde vem todas as afirmações?
Cadê as interrogações,
as vírgulas mal pontuadas,
as aspas que abrem aspas?
Ainda que os versos encolham
que transcreva-se um poema
um pensamento indefinido
um grito deveras contido
algo que morra calado no peito,
eu digo que o que para uns é calma
para tantos e tantos é agitação
é vida que segue partida,
é remendo da própria emoção
é aquilo que a alma grita e vibra sentida canção
é o que não se leva da vida
é o que se leva da vida
é vida em procissão .
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