NASCENTES

Vou morar no alto das serras

Bem pertinho das nascentes dos rios.

Lá poderei protegê-las mais de perto.

Não deixarei que joguem dejetos.

Enfrentarei qualquer desafio.

Não permitirei que a maldade se aproxime.

Não serei testemunha de mais uma cruel depredação.

Usarei minha lança mais afiada.

Espantarei os malfeitores.

Os desprovidos de bom senso

Os degradadores.

Os sem almas.

Minha preocupação agora

é com o caminho que suas águas terão de percorrer,

pois encontrarão outros sem almas.

Gente que acha que não tem nada a perder.

Outros sem piedade no coração.

O que atenua meu medo,

é saber que o homem já percebe

que a água doce poderá em breve faltar.

E que cedo ou tarde, mesmo que negue,

Dias difíceis estão por vir

Mesmo assim, ficarei sempre atento e vigilante.

Onde houver nascentes lá estarei de prontidão.

Durante a noite quando me entrego aos lençóis.

Tenho tido pesadelos constantes

Imagino a sede ao meu lado.

Do seu lado.

Perto de cada um de nós.

Sinto minha saliva seca.

Um enorme desespero na boca

Minha voz emudecida

Uma angustia louca

Um desassossego.

Com a iminência da falta d’água.

Grito desesperadamente.

Quero água para beber!

Tenho sede.

Posso até morrer.

Mas, meu eco fica contido num imenso silêncio.

Ao meu redor, vejo corpos imensamente cansados.

São crianças, adolescentes, adultos, idosos.

São pares de olhos claramente desanimados.

Uma confusão de vozes em desalinho.

Pela água doce que acabou.

Walmir Almeida
Enviado por Walmir Almeida em 06/03/2018
Reeditado em 22/03/2023
Código do texto: T6272182
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