NASCENTES
Vou morar no alto das serras
Bem pertinho das nascentes dos rios.
Lá poderei protegê-las mais de perto.
Não deixarei que joguem dejetos.
Enfrentarei qualquer desafio.
Não permitirei que a maldade se aproxime.
Não serei testemunha de mais uma cruel depredação.
Usarei minha lança mais afiada.
Espantarei os malfeitores.
Os desprovidos de bom senso
Os degradadores.
Os sem almas.
Minha preocupação agora
é com o caminho que suas águas terão de percorrer,
pois encontrarão outros sem almas.
Gente que acha que não tem nada a perder.
Outros sem piedade no coração.
O que atenua meu medo,
é saber que o homem já percebe
que a água doce poderá em breve faltar.
E que cedo ou tarde, mesmo que negue,
Dias difíceis estão por vir
Mesmo assim, ficarei sempre atento e vigilante.
Onde houver nascentes lá estarei de prontidão.
Durante a noite quando me entrego aos lençóis.
Tenho tido pesadelos constantes
Imagino a sede ao meu lado.
Do seu lado.
Perto de cada um de nós.
Sinto minha saliva seca.
Um enorme desespero na boca
Minha voz emudecida
Uma angustia louca
Um desassossego.
Com a iminência da falta d’água.
Grito desesperadamente.
Quero água para beber!
Tenho sede.
Posso até morrer.
Mas, meu eco fica contido num imenso silêncio.
Ao meu redor, vejo corpos imensamente cansados.
São crianças, adolescentes, adultos, idosos.
São pares de olhos claramente desanimados.
Uma confusão de vozes em desalinho.
Pela água doce que acabou.