Dia morno
Olhar retilíneo
Fugidio

Não queria a luz
e nem a treva.
Não queria nem a reta
e nem a curva.

Queria flutuar
Queria contemplar
o azul do céu,
a dispersão das nuvens.
E ouvir o silêncio semântico
dos corpos.

Dia morno.
O vento acaricia as árvores.
A folha morta em seu ballet 
cai e
repousa como um cisne
no chão...
crepitante, enigmático
e estorvante.

Entro em casa.
A chave conversa com a fechadura.
A porta se abre.
Magicamente,
o segredo permite-me entrar.
Finalmente.

Quem me dera, abrir
assim meu coração.

Quem me dera, libertar
meu lirismo pessimista
e entristecido
por essa violência
cotidiana.

Dia morno.
Nem quente e nem frio.
Nem chuva e nem sol.

Há uma natureza expectante
lá fora.

Esperando silenciosa os morros,
as florestas e os pássaros
a atravessarem os céus
num mantra faminto
de verdade e confiança.


As nuvens lá em cima
conspiram alguma chuva
Uma redinha.
Gotas de orvalhos distraídas
A molhar lentamente o dia.

As nuvens lá fora, navegam
por entre ondas de calor e 
espirais glaciais.

Gotejar a vida
homeopaticamente.

Aqui fora
Entre nuvens de pensamentos.
Raios de ódio
atritam com as circunstâncias.

Gente barulhenta.
Gralhas humanas
a pleno pulmões.
Crianças infelizes
gritando por atenção.

Não pediram
para nascer.
Então berram
por merecer.

E, a despeito de tudo
ainda existe o dia morno,
a confortável brisa
sinuosa
a contornar a curva
antes da curva.

A contornar o corpo,
antes do nascimento.
É o ninho de acaso
tecido curiosamente
pelo destino.
 
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 25/02/2018
Código do texto: T6264311
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