Baile de Máscaras
Corações negros
Semblantes trajados de morte interna
Um rosto amargurado sem encaixe seguro
Mãos trémulas, inquietude, mais uma crise de identidade
Um aspecto sinil, pouco viril, uma vaidade
Cabelos pretos
Esconderijo de uma criatura indefesa
Uma febre internal, mar de incertezas e fraquezas
Uma festa funerária formigando o ventre
Há timidez e afrouxamento no olhar
Um remoto e sublime temor da própria gente
Um primor involuntário na estranheza
Gritos que se calam sem serem ouvidos
Quietude longínqua sobre a abrasadora fúria
Inquietude que se faz constante
O rapaz exige de si um afastamento severo
De tudo que lhe é próximo do modo mais esmero
E assim se centraliza na descentralização
Dos todos os seus sentidos à irracionalidade
Mas não sabe de nada, é porém inocente
Vive um baile de máscaras nos sobressaltos da depressão
O seu medo é o seu casulo, a sua coragem é bagunçada
Só ele e as mentiras, no embaraço do engano
Na inelutável miragem que tolhe a percepção das coisas visíveis
E remonta a desligação pelas pessoas amadas
A rebeldia torna-se ainda mais contundente
E por mais que lanternas mirem reluzentes de paixão aos seus olhos
Ele só se consegue alumiar pelos mistérios do seu asilo alheio
Dança sem djs e as colunas são vertebradas
Não se diverte, pois a música não aponta à coisa alguma cantada
É tudo um baile de máscaras
Fumo escrevendo dores angustiadas à beira duma bambinela
Envenenando o ar já carbonizado pelos fogos postos nas ruas cinzentas
Reduzindo o lixo a restos mortais de matéria sólida
Sem companheiros para variar a bafurada
Gritos amordaçados ouvem-se algures ao léu
Batucadas de pernas cansadas e dedos com caimbra
De tanto segurar o cigarro queimado e a garrafa gelada do cálice gótico
Corpo que se contorce num alongamento de adrenalina
Na mais profunda inércia
Não houve reis, príncipes nem rainhas
Princesas ou qualquer personalidade do seu mundo ficcional
Não houve convites, mas uma oferta que se elastifica durante a vida
Uma transformação tenebrosa
Que escurece o universo do íntimo.