Baile de Máscaras

Corações negros

Semblantes trajados de morte interna

Um rosto amargurado sem encaixe seguro

Mãos trémulas, inquietude, mais uma crise de identidade

Um aspecto sinil, pouco viril, uma vaidade

Cabelos pretos

Esconderijo de uma criatura indefesa

Uma febre internal, mar de incertezas e fraquezas

Uma festa funerária formigando o ventre

Há timidez e afrouxamento no olhar

Um remoto e sublime temor da própria gente

Um primor involuntário na estranheza

Gritos que se calam sem serem ouvidos

Quietude longínqua sobre a abrasadora fúria

Inquietude que se faz constante

O rapaz exige de si um afastamento severo

De tudo que lhe é próximo do modo mais esmero

E assim se centraliza na descentralização

Dos todos os seus sentidos à irracionalidade

Mas não sabe de nada, é porém inocente

Vive um baile de máscaras nos sobressaltos da depressão

O seu medo é o seu casulo, a sua coragem é bagunçada

Só ele e as mentiras, no embaraço do engano

Na inelutável miragem que tolhe a percepção das coisas visíveis

E remonta a desligação pelas pessoas amadas

A rebeldia torna-se ainda mais contundente

E por mais que lanternas mirem reluzentes de paixão aos seus olhos

Ele só se consegue alumiar pelos mistérios do seu asilo alheio

Dança sem djs e as colunas são vertebradas

Não se diverte, pois a música não aponta à coisa alguma cantada

É tudo um baile de máscaras

Fumo escrevendo dores angustiadas à beira duma bambinela

Envenenando o ar já carbonizado pelos fogos postos nas ruas cinzentas

Reduzindo o lixo a restos mortais de matéria sólida

Sem companheiros para variar a bafurada

Gritos amordaçados ouvem-se algures ao léu

Batucadas de pernas cansadas e dedos com caimbra

De tanto segurar o cigarro queimado e a garrafa gelada do cálice gótico

Corpo que se contorce num alongamento de adrenalina

Na mais profunda inércia

Não houve reis, príncipes nem rainhas

Princesas ou qualquer personalidade do seu mundo ficcional

Não houve convites, mas uma oferta que se elastifica durante a vida

Uma transformação tenebrosa

Que escurece o universo do íntimo.

Widralino
Enviado por Widralino em 23/02/2018
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