Nos sobra a juventude
Dessas vidas enlatadas
E de mentes tão fechadas,
Dessas leis asfixiantes
E de medos transbordantes,
Desses dias de inimigos
E de ruas de mendigos...
De sonhos que nos consome
E de filas pra matar a fome,
Desse regime podre,
Dessa gente não-pensante
E de peitos com implantes,
Desses ídolos falsários
E poesias de urinário...
Dessas muitas cicatrizes
Que levamos pro ataúde,
E verdades sem pena
Que envenenam a saúde,
Trazem, unicamente,
A esperança do presente:
Nos sobra a juventude
Desses sábios que não escutam
E de guerreiros que não lutam.
Deste céu sem nada,
E de alívios com garrafas,
Desses vícios herdados
E de ódios incrustrados...
Desses dramas sem culpados
De seres vivos enjaulados,
Desse absurdo raciocínio,
E de amores de alumínio...
Nos sobra a juventude
Deste inferno em HD
E de gente que não lê,
Dessa raiva contida
E de gente suicida,
Dessa guerra silenciosa
E dessas lapides sem rosas...
Dessa fraude calculada
E de príncipes, de fadas,
Dessas bussolas sem norte,
E de mais e mais cortes,
Deste nó que nos agarra
E de mortos pelas valas
Desses lamas, desse pó
E da voz que já não chama.
Deste mundo que não pensa
E de nada na despensa...
Dessas muitas cicatrizes
Que levamos pro ataúde,
E verdades sem pena
Que envenenam a saúde,
Trazem, unicamente,
A esperança do presente:
Nos sobra a juventude