EM PAZ

Já bem perto do ocaso, eu te bendigo, ó Vida,

Porque nunca me deste esperança mentida,

Nem trabalhos injustos, nem pena imerecida.

Porque vejo, ao final de tão rude jornada,

Que a minha sorte foi por mim mesmo traçada;

Que, se extraí os doces méis ou o fel das cousas,

Foi porque as adocei ou as fiz amargosas;

Quando eu plantei roseiras, eu colhi sempre rosas.

Decerto, aos meus ardores, vai suceder o inverno:

Mas tu não me disseste que maio fosse eterno!

Longas achei, confesso, minhas noites de penas;

Mas não me prometeste noites boas, apenas

E em troca tive algumas santamente serenas…

Fui amado, afagou-me o Sol. Para que mais?

Vida, nada me deves. Vida estamos em paz.

Amado Nervo
Enviado por Miguel Toledo em 14/02/2018
Reeditado em 14/02/2018
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