TRAVESSIA
derramo o olhar nas coisas
animadas
e inanimadas
...
deito os olhos nas calçadas...
do tempo
...
penetro num túnel
longo, longo
e vejo telas dependuradas
...
as imagens são criadas
...
já não sou a mulher de agora
reencontro tantas vidas
o que fui outrora
...
ou o poeta caminhando na areia
a feiticeira na fogueira
a dançarina rodopiando
a criança gritando
...
sou a que fala
sou a que cala
...
o sorriso aberto
sou também o riso incerto
...
entre lágrimas e sorrisos
vou reencontrando tantas vivências
quantas experiências!
...
reencontrando “tantas e tantos”
que fui
vou entendendo o que sou
compreendendo porque “voo”
...
e nesta longa travessia
vendo as viagens, as passagens
fixo o olhar em cada tela
antes que ela se apague de vez
sou tantas vidas
ainda que em mim
estejam adormecidas
...
não vejo o final do túnel
vou andando, andando
não é o tempo que está voltando
ele está apenas me mostrando
me demonstrando
que somos tudo o que vivemos
que o caminho do progresso
é longo e árduo
e que somos esta energia que rompe eternidades
lá ou cá... quantas ideias equivocadas!
não é a morte que nos transforma
são as “estradas”