FLOR DO MAL

A espada cravada na espinha da alma,

Se retirada, bastaria para decepar a cabeça da dor?

Que se dirige ante a face e nos conduz como cegos,

Famintos, guiados pela luz da meia noite chuvosa, isto é...

Conduzindo aos espasmos de uma existência que não se explica.

Qual a cor de sua dor,

Uma mãe que perdeu o filho,

Um botão que não floresceu,

A inocência que perdeu os sonhos,

Um mundo que parece se voltar ao seu único sorriso.

E iluminado pela luz da meia noite chuvosa,

Os borrões ilegíveis sufocam e o ar fica intragável,

E o mundo não para, e nos leva como enxurrada,

E ao deitar culparemos o mundo criado por nossos pais,

Mas não julgaremos o nosso silêncio que ali concordava.

Por que o mundo gira e as pessoas correm?

Uma hora a cova abre e o manto de terra calará os gemidos,

No caminho entre tantas flores,

Os olhos se viciavam na flor do mal,

Cinza e seca, retraída em sua dureza.

Não é que sintamos prazer nas dores,

A pressa de nos salvarmos é a nossa prisão,

Quando apenas bastava parar por um instante,

Respirando lentamente, aparentemente, ato inutilmente,

Mas assim perceber uma porta meio aberta que pode ser a passagem.

Temos medo de falhar a todo instante,

Temos medo que o amanhã seja um dia sem luz,

Temos medo ficarmos sozinhos,

Temos medo de escolher a companhia errada,

Temos tanto medo que há dias em que o próprio reflexo é um inimigo.

Quem salvará o mundo que adoeceu?

Quem nos abraçará com força,

Estamos correndo contra o tempo,

E para quê?

Alguém pode responder?

E se houvesse um telefone para ligarmos ao nosso passado e futuro,

E dizer para si mesmo “não se apressa”, “não tenha medo”,

Mas, por que desejamos tanto outros tempos,

Se tudo que nos resta é o agora,

E agora podemos ser nós mesmos.

Dizem que nada é para sempre,

Mas o agora é,

Pois o ontem foi um agora que passou,

O amanhã na hora que ocorrer, será um agora,

Nem passado, nem presente, apenas um agora para existirmos.

A espada cravada na espinha da alma é para lembrar que tudo pode doer,

Mas a flor do mal já está morta e não pode florescer,

Às vezes é preciso contrariar o mundo e se permitir respirar lentamente,

Para avistarmos os poucos paraísos de nossos caminhos,

Na distância de um olhar, no singelo ato de um sorriso, no abraço de quem aprendeu amar.