REMOENDO
Ela dorme ao lado,
respira sem dono.
Eu fico acordado
remoendo esse abandono.
O sonhar é dela,
a dúvida é minha;
nos meus olhos pérvios
o ciúme fez casinha.
Esse é o meu abrigo
na chuva de açoite.
Quem dançou comigo
agora plana ao céu da noite.
Não me diz ao certo
de onde veio a lança;
fico imaginando
qual revoltada criança
cuja mãe não vai
à feira das nações;
mãos atadas tentam
desatar nós em cordões.
Todos estão cegos.
Todos estão vendo,
"deve haver um elo
e eu não estou percebendo".