CAPTURA

Dando vulto aquilo que vejo 

Caminho deixando por todos os lugares 

Restos

          Rostos

                     Rastros peculiares.

 

No caminhar que vislumbro

Objetos inanimados e vulgares

(Portas

 Janelas

    Quadros

        Camisas

            Cadeiras

                   Carros)

Lhes dou vida ao mira-los.

Mas se fito a mim mesmo

(Reflexo prismático)

Projetado no espelho

Me apago

Me abismo.

E logo penso

Seria então oposto disso?

O completo inverso do que a priori

Por mim capturado em verso

For-se-ia ou fora dito?

O que contemplo

Não ilumino

        Ao contrário

O que no olhar capturo

Também me fita

E é o que me faz vivo!

Pois o homem (matéria e

                          mistério)

Só pode se ver de dentro

Do ponto de vista

Em que o mundo é labirínticamente sério.

E o olhar que o desvenda

E o aviva

Só tem efeito sob quem

O recebe

Não sob quem a si mesmo o aplica.

Não se vê o mundo através do espelho

Somente seu espectro gêmeo

Imune ao feitiço

Que opera a atenção cedida.

Reparo que nem sempre envaidece

                                        Ou intimida

Mas a vida

Só posso senti-la

Cinti-lar na sensação efêmera consciente

De que é viva

Quando um olhar inédito a ilumina.

E sabendo que o sentido de tudo é o outro

Assim se inicia um fogo cruzado

E misto

De olhar

E neste mesmo gesto

Ser visto.

HenriqueBazzí
Enviado por HenriqueBazzí em 22/01/2018
Reeditado em 22/01/2018
Código do texto: T6233073
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