Perco
Perco porque tenho que perder
por falta de poder
um universo na mão
e a cabeça afundada no chão
Perco porque sou feito de exageros
e sem nenhum tempero
jogo fora meus verbos
a palavra que não penso
A não emissão da opinião
rasgada como folha ao vento
fazendo desenhos de inferências
que não penso em apontar
Perco porque meu nome
é uma guerra mais quente
que a invocação de uma entidade
pela boca de um vulcão,
cratera adentro ardendo
minha explosão
por ser demais o que nem cabe em mim.
Perco por perder o que talvez,
escrito à mão num destino
que não me atentei num dia qualquer
preso em reunião.
Perco por não ter razão
por inconsequência
e com as asas na mão,
quebradas como gravetos,
sinto falta de voar aonde
não sei o alcance exato.
Uma vez perdido,
pelo labirinto das ruas
ou pelos cantos
que me são escuros,
eu retorne, ou retorna a mim
o perdão, a prece,
a volúpia, a leveza, a poesia
ou uma lágrima
que ressurja no lugar de quem
sorria...
Márcio Ahimsa