MARCAS COLORIDAS

Como explicar para um cego de nascença,

o que são as cores?

Como explicar para um cego

o que é nascença?

“Ali nada surge

vai se repetindo”.

As cores são diferentes,

as cores podem ter, podem ser:

“Um tijolo ao relento,

antes da construção,

tem a coloração laranja;

a fruta, no entanto,

mesmo sem a solidez da futura casa,

é vital para esta cor”.

O cego ri e sabe

nenhuma cor se intui pelo tato,

o tato do colorido azul.

“Ele está por todos os lados,

mas não se toca a abóbada celeste”.

Como explicar as cores ao cego de nascença?

Não se explica,

embora o cego conheça o paladar,

se oriente pelo olfato,

- ambos intensos em uma salada de brócolis -

e tenha concluído:

“Imagino os brócolis na beira das calçadas,

eles florescem e ali estão todas as cores,

o cheiro do amarelo,

o gosto do verde, do vermelho.

sendo o resto, um sonho ”.

Mas para cego de nascença,

é preciso explicar o mundo.

Ele seria mais ruído:

do sapato salto agulha da mulher,

forte em cada batida;

do canto do passarinho,

saído do bico cantador;

chamar a atenção do menino:

“Olhe, como as nuvens são branquinhas!”;

dos gemidos noturnos na cama,

que vieram da caverna pré-histórica.

O cego de nascença alucinará:

“Os homens já viveram uma escuridão de gruta,

sentiram um medo imenso

e ali inventaram o prazer do amor.

O prazer é uma cegueira de nascença”.

DO LIVRO: "O ÚLTIMO FOGUETE"

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 02/01/2018
Reeditado em 20/03/2019
Código do texto: T6215141
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