ANO NOVO?

Fulgem no horizonte os dias futuros.

Ou a sua promessa. Mas que prometem

Estes novos dias? Prometem-me

O sonho inda vivo, a promessa mesma

- Dir-se-ia. Tu sabes que nada detêm a

Manhã. Quer a manhã, quer um novo ano,

Uma nova vida. Esta lhe foge às mãos,

Esgota-se: és dura, amarga, pouca.

Caminhas os passos à ti emprestados,

Sem saber para onde vais, nem por quê.

E no entanto, buscas a revelação.

Pressentes o futuro emergir das trevas.

Sabes que nada detêm a noite. E esta

Inda há de parir novos dias que se

Erguirão incertos sobre nossas cabeças

Sem que se perceba a manhã arriscar

Seu canto puro e de tudo possível.

A menos que se apure o auscultado

Sentido. Para que se ouça na sala das

Inércias, sua existência perplexa à clamar

Para que não a permita sucumbir

Aos dias esmaecidos. Enevoados dias,

Antes do entardecer já findos, trazendo

Consigo oque no olvido não se leva. Ou

Guarda-se n'algum lugar. Ei-lo guarda-se

A si mesmo, e permacece junto a ti:

Como um braço teu, ou a sombra deste

Remoendo-se de tua carne enquanto

A vida se ergue num sol-forte e presto

Que paira reticente até um novo dezembro.

E assim, voltas a pleitear que tudo se

Extingua e renasça outro, que se exerça

Tua sorte de vez. Contudo, insistes na

Loucura de ser o mesmo a cada Janeiro.

HenriqueBazzí
Enviado por HenriqueBazzí em 01/01/2018
Reeditado em 06/02/2018
Código do texto: T6213794
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