ANO NOVO?
Fulgem no horizonte os dias futuros.
Ou a sua promessa. Mas que prometem
Estes novos dias? Prometem-me
O sonho inda vivo, a promessa mesma
- Dir-se-ia. Tu sabes que nada detêm a
Manhã. Quer a manhã, quer um novo ano,
Uma nova vida. Esta lhe foge às mãos,
Esgota-se: és dura, amarga, pouca.
Caminhas os passos à ti emprestados,
Sem saber para onde vais, nem por quê.
E no entanto, buscas a revelação.
Pressentes o futuro emergir das trevas.
Sabes que nada detêm a noite. E esta
Inda há de parir novos dias que se
Erguirão incertos sobre nossas cabeças
Sem que se perceba a manhã arriscar
Seu canto puro e de tudo possível.
A menos que se apure o auscultado
Sentido. Para que se ouça na sala das
Inércias, sua existência perplexa à clamar
Para que não a permita sucumbir
Aos dias esmaecidos. Enevoados dias,
Antes do entardecer já findos, trazendo
Consigo oque no olvido não se leva. Ou
Guarda-se n'algum lugar. Ei-lo guarda-se
A si mesmo, e permacece junto a ti:
Como um braço teu, ou a sombra deste
Remoendo-se de tua carne enquanto
A vida se ergue num sol-forte e presto
Que paira reticente até um novo dezembro.
E assim, voltas a pleitear que tudo se
Extingua e renasça outro, que se exerça
Tua sorte de vez. Contudo, insistes na
Loucura de ser o mesmo a cada Janeiro.