O MENDIGO
O MENDIGO
Pede o mendigo
nas ruas por precisão,
mas sua alma,
de má índole, se revela
no deboche,
no orgulho,
na deseducação
que ela traz de outra
vida, que lhe foi
nutrida pela ilusão
carnal tão bela.
Só pede, esse mísero
mendigo, que passa
pela prova
da mendicância,
alheio à vida
do político atual,
que rouba o pão do povo
e está na prisão,
cuja democracia
hipócrita, minimiza
o seu infortúnio
dentro de uma cela,
com regalias compostas
de tornozeleira
eletrônica e prisão
domiciliar, nutrindo
a impunidade crônica
da alma política
corrupta, que continua
egoísta e soberba
vinculada ao poder.
Pede, mendigo,
porque numa de suas
reencarnações,
como um político
corrupto:
tirou o pão da boca
do povo; comprou
o voto do povo; meteu
a mão no dinheiro
público; enganou
o povo com promessas
que não as cumpriu.
Pede, como um reles
esmoler, e esnoba
a quem lhe dá
uma roupa usada
ou uma sobra de alimento;
resmunga pelas ruas,
travessas e becos,
perambulando durante
o dia; e de noite, dorme
andrajoso sob qualquer
marquise de comércio
na companhia
de almas infelizes.
Pede agora,
mas com desdém,
como se não precisasse
do que pede, porque antes,
numa outra vida,
tinha em abundância,
fruto da verba que desviou
da saúde, da educação,
da assistência social,
das obras superfaturadas...
O mendigo que pede
e nem sabe o que é caridade,
o servir espontâneo,
o amor fraterno ao próximo;
no entanto pede,
porque precisa suportar
a prova de pedinte,
que prometeu
antes de reencarnar;
mas pede com soberba,
resmungando, esnobando,
desdenhando; e por isso,
talvez, sofra por mais
tempo, estagnado
nas penosas provações.
Pobre alma,
que hoje mendiga
pelas ruas e não aceita
ser humilhada pelo povo;
mas numa outra vida,
numa outra encarnação,
como político corrupto,
o que mais fez
foi desprezar o povo, tirar
do povo, subestimar o povo...
Pobre alma, antes política
corrupta, que se iludia
no poder sem se sentir povo,
achando que não fazia
parte do povo, porque tinha
nojo do povo, que não era povo...
Pobre alma,
que antes se aprazia
no planalto e alvorada
palacianos,
na esplanada ministerial,
ou na plêiade congressista.
E hoje, sem o poder,
andrajosa,
esmola pelas ruas
no meio do povo,
pedindo ao povo,
implorando ao povo,
o pão que antes tirou do povo,
comendo quase sempre,
as migalhas desse pão,
que o povo lhe doa
por mera compaixão.
Escritor Adilson Fontoura