De olho

Vivo de olho

no que não quero ver.

Se eu pudesse

escolher um poder,

com certeza,

optaria pelo de fazer desacontecer.

Desmexer o mexido.

Desviver o vivido.

Esquecer o lembrado.

Justiçar o injustiçado.

Cegar o visto.

Alienar o enxergado.

Desatar os atos

que contam fatos.

Apagar os negativos de um filme

como quem desfilma cenas.

Cenas de um cotidiano tão triste

que é melhor pensar

que não existe.

Não é nem por sermos ranzinzas,

mas muitos cenários

enxergamos em tons de cinza.