Ciclos

Ciclos

Um sol nascente não faz o dia

Se não se sabe emergir dos sonhos.

A lua clara não traz a noite

Pra quem não ousa estrelar o céu.

Não deixe o passo fazer teu rumo

Sem dar teu rumo pra cada passo.

Viver é isso e quem vive sabe:

Passo perdido não faz bom caminho.

Carrega contigo um sorriso largo

A abrir searas de luz e de paz.

Em cada chegada, deita a semente,

Mas a cada partida não ceifes o grão.

Deixa que os povos trabalhem a massa

Pra matar o vazio da tua lembrança.

E então, da saudade, só deixa a metade,

Com a outra porção, carrega o embornal.

É ela a presença de quem já partiu

Sem nunca, contudo, deixar um adeus.

É algo que vai logo após um aceno,

É o aceno que fica e não pode seguir.

Que pousem teus olhos por onde quiserem!

É ali que tu deves plantar teus jardins

E erguer o teu teto, esticar tua rede,

Até que a vida, enfim, solicite

A tua presença por outras paragens.