AS LENTAS HORAS
AS LENTAS HORAS
As lentas horas,
retidas nas varandas
dos amplos
casarões campesinos,
fluem nos lentos
instantes das cirandas,
sem jamais intervir
nos seus destinos.
As lentas horas, olvidas
entre as fendas
dos velhos assoalhos,
não sabem dos desatinos
das gentes alheias,
andejas pelas sendas
bestiais nas quais
vegetam os cretinos.
As lentas horas
são indiferentes
às coisas usadas, mofando
nos cantos
das varandas envelhecidas;
no entanto,
a lentidão do tempo
nas horas lentas, consolam
a quietude cotidiana
das gentes entristecidas,
apesar de não mais
se importarem com o tempo
nas horas de suas vidas
outrora opulentas.
As lentas horas,
que as gentes envelhecidas
as tornam agora irrelevantes;
e que apenas se lembram
em sonhos, quando elas ainda
não lhes eram lentas;
quando elas (as horas lentas),
avançavam apressadas nos instantes
pueris das cirandas inocentes,
renovando-se no tempo,
o cúmplice fiel de todas as horas.
Escritor Adilson Fontoura