AS LENTAS HORAS

AS LENTAS HORAS

As lentas horas,

retidas nas varandas

dos amplos

casarões campesinos,

fluem nos lentos

instantes das cirandas,

sem jamais intervir

nos seus destinos.

As lentas horas, olvidas

entre as fendas

dos velhos assoalhos,

não sabem dos desatinos

das gentes alheias,

andejas pelas sendas

bestiais nas quais

vegetam os cretinos.

As lentas horas

são indiferentes

às coisas usadas, mofando

nos cantos

das varandas envelhecidas;

no entanto,

a lentidão do tempo

nas horas lentas, consolam

a quietude cotidiana

das gentes entristecidas,

apesar de não mais

se importarem com o tempo

nas horas de suas vidas

outrora opulentas.

As lentas horas,

que as gentes envelhecidas

as tornam agora irrelevantes;

e que apenas se lembram

em sonhos, quando elas ainda

não lhes eram lentas;

quando elas (as horas lentas),

avançavam apressadas nos instantes

pueris das cirandas inocentes,

renovando-se no tempo,

o cúmplice fiel de todas as horas.

Escritor Adilson Fontoura

Adilson Fontoura
Enviado por Adilson Fontoura em 12/11/2017
Código do texto: T6170026
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