O desejo

O que é o desejo, afinal?

Pergunto a mim, pensativo,

Será um atributo da libido?

Será, talvez, um querer sem qualquer crivo,

Verdadeiro precisar, ou até depender

Do próprio fruto proibido?

Que é o desejo, enfim?

Essa sensação indefinível,

Esse abismo de metáforas imprecisas?

A certeza da direção,

flutuando na dúvida do sentido,

Para muito além da imaginação,

Para muito aquém do tangível.

O desejo, se explicável fosse,

Seria o caminho e não destino,

Não seria a flor, nem o perfume que dela emana,

Mas a vontade de tê-la, história que não há de ser contada,

Ou uma coceira que não pode ser coçada,

O tipo de desvio mais recorrente de toda a aventura humana.

Que seria o desejo, então?

Já não ousarei limitá-lo, posto que inefável,

O limiar imperscrutável, diria o perito,

Entre todas as delícias e tudo que é desagradável,

Oscilando para lá e para cá da razão,

No espaço indefinível que se oculta

[entre o cérebro e o coração.