Perdão

Não sabia dessa força interior.
Julgava ser detentor do poder de perdoar.
Inúmeras vezes o exerci.
Escutava a outros que gritavam suas mazelas.
 
Naquela noite foi diferente.
Eu, que sozinho lidava com a dor,
Deixei parte escapar num clamor.
Ela foi ouvida.
 
Uma alma boa percebeu.
Fez a leitura de minha ânsia em amar.
Enxergou os detalhes que travavam meus caminhos
Disse serena: _ você precisa perdoar.
 
Não entendi a sugestão.
Acreditava ter dado o perdão.
Mas não havia experimentado
A paz de me sentir amado.
 
Sentado. No colo um pedaço de pano.
Revivi a dor do querer bem.
Ela foi enfática: _ dê o perdão!
Eu, então chorei.
 
Foi choro doído. De rancor reprimido.
Raiva não elaborada em nome da fé.
Tive ódio, pena, tristeza.
Mas absolvi-me do negativo.
 
Perdão não é palavra para outros.
Perdão é sentimento interior.
Dar a quem te magoou o direito de ir.
E a você, que ficou o gosto de viver o puro amor.