A DAMA DE TODAS AS HORAS
Ora sou bela, ora estranha.
Ora comédia, ora drama.
Ora simples, ora complexa.
Ora abstrata, ora concreta.
Ora estática, ora movimento.
Ora mínima, ora monumento.
Ora romântica, ora radical.
Ora vanguarda , ora formal...
Sou a coroação da condição humana,
todas as possibilidades de criação.
Pura alquimia, inspiração.
Sentimentos em ebulição.
Sou o macro e o microcosmo.
Intuição, percepção.
Todas as imagens, sons,
formas, cores, movimentos,
transmutadas em consciência.
Ora luz, ora sombra.
Ora silêncio, ora canção...
Desperte seus sentidos!
Sinta-me na alma, no corpo,
no tato, no olfato,
na ponta da língua,
nos olhos e ouvidos.
Por todos os poros,
no levante dos pelos,
no tremor dos órgãos...
Nem sempre crível,
nem sempre louvável.
Mas sempre viva
e autêntica!
Jamais me julgue,
classifique ou condene
e nem tente me entender...
Meu nome é ARTE!
Esse poema foi escrito há seis meses e declamado no sarau de aniversário da Academia Feminina Espírito-santense de Letras no início do mês de agosto deste ano.
Diante dos acontecimentos ocorridos nos últimos dias, com relação à exposição do Santander que foi encerrada antes do tempo por causa da pressão de alguns grupos. Ele pode parecer polêmico ou direcionado, mas foi escrito sem qualquer influência ou objetivo de defesa ou condenação. É apenas o que penso sobre o assunto, sem colocar sobre os meus olhos as lentes do preconceito ou da crítica.
Eu também tenho meus "limites" de entendimento e não gosto de algumas coisas que definem como "arte". Em 2012, visitei o Museu de Arte Moderna de Nova York (MOMA) e logo na entrada da primeira exposição, me espantei ao dar de cara com um quadro todo branco. E outros num padrão parecido, com apenas um ponto, etc.
Naquele momento, me perguntei: Que arte é essa? Mas, independente do que eu ache, aquele quadro estava lá por um motivo, ele DIZ. Ele diz sobre o "branco", sobre a pureza, sobre a dificuldade de criar, sobre o "não fazer"... Quem olha aquele quadro "sem nada" pode entender tanta coisa... É questionador, sim.
Eu achei de mau gosto e apelativos, alguns trabalhos mostrados na exposição do Santander. Contudo, como artista, entendo que a arte deve vir precedida da liberdade de expressão. Arte não existe apenas para ser bela e agradável, também existe para questionar, provocar, e até nos indignar. A arte nos move, nos tira as vendas, nos mostra até quem somos quando nos deparamos com determinados temas. Ela retira nossas máscaras, expõe nossos medos, nossos entraves.
E nesse ponto, entendo que a exposição do Santander não precisava mesmo ir "até o final", posto que, no tempo que ficou foi polêmica ao ponto de ser tão falada e criticada, que acabou cumprindo o seu papel.