MIGALHAS

A sopa de letras transborda
O aspecto é de lavagem
Que nada limpa e apodrece

O cego descreve com detalhes o naufrágio
Aponta nuances que o povo desapercebe

Carcaça de barco
Carroças na estrada
Falsas pontes
Falta de afeto
Boia fria

Vendaram meus olhos
Venderam o chão
Roubaram tantos sonhos
Destruição

A sopa de letras transborda corrupção
A plateia recolhe seu lanche, um mísero pedaço de pão

A lona colorida encanta
Apenas o cego enxerga
Dispensa oferta e aperto de mão

É forte o chorume que escorre sem distinção
Num cristo de braços abertos a pedir perdão

Enquanto crianças driblam balas, homens contam tostões, mulheres procuram emprego levando seus filhos pelas mãos.

Escola já foi substantivo para adjetivar a nação
O presente é paredes frágeis e grades de prisão.

Contém desespero e falta educação, medo toma esquinas, arma na cabeça, sinal fechado, corpo ao chão.

A sopa de letras transborda, espalha vergonha e decepção.

Enquanto uns cruzam os braços, outros aplaudem o pastelão.

Apenas o cego reflete em estado de consternação.

Há venda em todos os olhos, problema de coração, perturbação da ordem, falta de vergonha, corrupção.

A sopa de letras transborda, roubaram a última fatia de pão.
Renata Rimet
Enviado por Renata Rimet em 07/09/2017
Reeditado em 03/10/2017
Código do texto: T6107325
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