ESCOLHIDO
Não sei idealizar o ser
que cai bem ao meu lado.
Não que idéia me falte.
Me falta achar a maneira.
Não sei talhar na madeira
quem me matará de anseios;
de dúvidas, desespero
e um pouco de alegria.
Não sei se esse "escolher"
envolve categorias:
(…)
Seria a que joga cartas
e veste a moda passada?
A que me envaidece o corpo,
me leva em doces palavras?
A virgem que nem sequer
sabe dizer com graça um "não".
Ou terei que escolhe-la
com varinha de condão?
As de face arredondada,
fazem me sentir menino.
Menino de ser menino.
Menino de juventude.
Pode ser a que aceita
ou que retruca amiúde?
Posso decidir o tipo
num campeonato de gude?
(...)
A que nunca me questiona
'de onde vim' ou 'p'ronde vou'?
A que me mata de raiva?
Que me embebeda de amor?
Há sempre uma que tolera
minhas filhas já crescidas,
há também as impotentes;
não concedem; não opinam...
Pois cobro-me em decidir-me,
mas não que elas me decidam.
Quem haverá de aturar-me?
Quem o fará de bom tom?
Por medo ou por segurança
essas questões não têm som.
(...)
A que ficar à direita
poderá mudar de lado?
E quanto ao meu inventário,
há quem possa conhecer?
Quem me dirá o que quer?
Quem o que eu quero ouvir?
A que me serve o café
sem açúcar ou chantily?
Ou a que nunca tomou
nem café ou derivados
seria a mais indicada, pois
também nunca provei?
Há quem me diga que eu
não devo palpitar no caso.
Há quem diga que, no caso,
o escolhido serei.
(...)