CARTAS MARCADAS
Meu pensar é cristalino, meu pensar é ópio.
Sou acostumado a industrializar pensamentos
Caminhando sempre em linha reta, sem atalhos.
Vez por outra paro, raciocino e fotografo o instante,
A memória costuma ser almoxarife da consciência
A guardar fatos que me libertam de certas doutrinas.
Nada me impressiona, é que não sou tão passional.
Sou um adulto com os pés no chão, sempre renasço,
Pois vivo intencionalmente o agora, que é meu apogeu.
As novidades são como coisas arcaicas, assim é o mundo,
Nada me oblitera o prazer de rever o novo que já é velho.
A vida para mim é um bem-me-quer, cheirosa e traiçoeira.
Nenhuma enfermidade tem o meu pavio, sou imune aos
Detritos que valsam diante de mim, não há aconchego...
Estou o tempo inteiro de acordo comigo, não há intrigas,
Em minha compreensão abstrata assimilo o desdém do orbe.
Não sou filósofo, sou mito de mim mesmo. Determinada
Psicologia se amolda aos meus quereres, então me analiso.
Nas paisagens do planeta entrego-me às reflexões. É luxuriante!
Tudo é uma questão de controle, de saber-se lidar em si,
Sem delimitar até onde a essência do pensar possa chegar.
E, assim, em constantes átimos, detenho minha própria índole
Visto que sou detentor de todos os meus andaimes, sem degraus.
A inconsciência é estrangeira, sempre de luto, sem cartas de mim.
DE Ivan de Oliveira Melo