CARTAS MARCADAS

Meu pensar é cristalino, meu pensar é ópio.

Sou acostumado a industrializar pensamentos

Caminhando sempre em linha reta, sem atalhos.

Vez por outra paro, raciocino e fotografo o instante,

A memória costuma ser almoxarife da consciência

A guardar fatos que me libertam de certas doutrinas.

Nada me impressiona, é que não sou tão passional.

Sou um adulto com os pés no chão, sempre renasço,

Pois vivo intencionalmente o agora, que é meu apogeu.

As novidades são como coisas arcaicas, assim é o mundo,

Nada me oblitera o prazer de rever o novo que já é velho.

A vida para mim é um bem-me-quer, cheirosa e traiçoeira.

Nenhuma enfermidade tem o meu pavio, sou imune aos

Detritos que valsam diante de mim, não há aconchego...

Estou o tempo inteiro de acordo comigo, não há intrigas,

Em minha compreensão abstrata assimilo o desdém do orbe.

Não sou filósofo, sou mito de mim mesmo. Determinada

Psicologia se amolda aos meus quereres, então me analiso.

Nas paisagens do planeta entrego-me às reflexões. É luxuriante!

Tudo é uma questão de controle, de saber-se lidar em si,

Sem delimitar até onde a essência do pensar possa chegar.

E, assim, em constantes átimos, detenho minha própria índole

Visto que sou detentor de todos os meus andaimes, sem degraus.

A inconsciência é estrangeira, sempre de luto, sem cartas de mim.

DE Ivan de Oliveira Melo

Ivan Melo
Enviado por Ivan Melo em 22/08/2017
Código do texto: T6091198
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